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domingo, 2 de abril de 2017

Série de estudos "Cristianismo e Liberalismo" - 3ª parte


por:
José Augusto de Oliveira Maia
29.03.2017



INTRODUZINDO NOSSO ESTUDO

Machen, o autor de nosso livro(*), inicia a apresentação do Liberalismo Teológico (LT) como um movimento que, apesar de manifestar-se de diversas formas, possui uma raiz bem definida, que é o naturalismo, neste contexto definido como "a negação de qualquer intervenção do poder criativo de Deus (...) em conexão com a origem do Cristianismo" (página 10); em outras palavras, de acordo com o LT, a fé cristã conhecida até meados do século XIX não tem sua origem em Deus.

O surgimento do LT, segundo Machen, está atrelado às mudanças ocorridas ao longo do século XIX: mudanças na mente e no espírito humanos, grandes avanços tecnológicos e forte industrialização da economia; ao mesmo tempo, as áreas do conhecimento humano também passaram por transformações, seja na física e na química, seja na história, na psicologia e na sociologia, todas influenciadas pelo "orgulho moderno da conquista científica" (página 11). Como resultado destas transformações, as mais antigas convicções da Humanidade passaram a ser questionadas, pois sua dependência do passado é vista de forma negativa.

Assim, a fé cristã aparece sob forte questionamento, uma vez que seu ensino é baseado na autoridade de textos antigos, de no mínimo 20 séculos atrás; a pergunta que se faz é: "será que uma religião do século I pode continuar existindo diante da ciência do século XX?" (página 12). Vale lembrar que, em pleno século XXI, esta questão continua sendo relevante.

A fim de responder a esta pergunta, alguns acreditam ser correto separar a religião da ciência; no entanto, Machen afirma que isso é um erro, uma vez que a fé cristã baseia-se em convicções especialmente de cunho histórico, podendo ser estudadas de forma científica; em outras palavras, as afirmações históricas que formam a base da fé cristã são passíveis de investigação científica.


Portanto, se há uma correlação entre ciência e fé religiosa que possa ser saudável, subtraindo-se da religião acréscimos pseudocientíficos, o foco da questão muda, passando a ser: "Qual a relação entre o cristianismo e a cultura moderna? O cristianismo pode manter-se numa era científica?" (página 12).


Tentando responder a esta questão, o LT admite a possibilidade de opor objeções científicas a aspectos específicos da doutrina cristã, como as doutrinas sobre a pessoa de Cristo e sobre a redenção do Homem pecador através de Sua morte e ressurreição; e assim, o foco do LT são princípios religiosos gerais que, segundo os teólogos liberais, constituem a "essência do cristianismo" (página 13).


No entanto, Machen critica este tipo de defesa da fé cristã feita pelos teólogos liberais, pois ao abandonarem uma por uma as doutrinas cristãs fundamentais, a fim de preservar  uma suposta "essência do cristianismo", o que sobra não é o cristianismo, mas sim uma religião totalmente diferente; assim, a defesa liberal do cristianismo "renunciou a tudo o que é peculiar ao cristianismo, deixando somente aquele tipo indefinido de aspiração religiosa já presente no mundo antes de o cristianismo entrar em cena. Na tentativa de remover do cristianismo tudo o que poderia ser questionado pela ciência, subornando o inimigo com as concessões que ele mais desejava, o apologista abandonou aquilo que, no começo, estava defendendo. Nisso, como em muitas outras áreas da vida, vê-se que as coisas que parecem ser mais difíceis de defender são as que mais valem a pena ser defendidas." (página 14).


Nosso autor também denuncia, como consequência do liberalismo, o declínio das artes frente ao avanço tecnológico ocorrido ao longo do século XIX; "Apesar da poderosa revolução que tem sido produzida nas condições externas da vida, não há nenhum grande poeta para celebrar a mudança." (página 15); comparada com a produção artística e cultural dos séculos anteriores, "Também já se foram os grandes pintores, músicos e escultores." (página 15); no entanto, segundo nosso autor, isto "é só uma manifestação de um fenômeno muito mais abrangente; só uma instância do estreitamento do âmbito da personalidade que está ocorrendo no mundo moderno." (página 16). Isso, de acordo com ele, tem levado à perda da liberdade individual em prol do avanço do utilitarismo, que buscando desenvolver o bem comum à luz do que uma maioria deseja, impõe esta noção de bem comum indiscriminadamente a todos.


"Essa tendência pode ser percebida, especialmente, na área da educação. Assume-se agora que o objeto da educação é a produção da grande felicidade para o maior número possível. Mas a grande felicidade para o maior número, como se perceberá mais tarde, só pode ser definida pelo desejo da maioria. Portanto, diz-se, as idiossincrasias na educação devem ser evitadas, e as escolhas das escolas tomadas das mãos do indivíduo (os pais) e entregues nas mãos do Estado. Dessa forma, o Estado exerce sua autoridade por meio dos instrumentos que tem e, uma vez que isso aconteça, as crianças são colocadas debaixo do poder dos profissionais da psicologia, os quais não têm o menor entendimento dos âmbitos mais dignos da vida humana, e previnem que o entendimento seja adquirido por aqueles que estão sob seus cuidados." (página 16).


Como exemplo do que estava ocorrendo em sua época, Machen cita uma lei do estado do Oregon, de 1.922, "obrigando que todas as crianças estudem em escolas públicas. Escolas cristãs e escolas privadas, pelo menos nos importantes anos do Ensino Elementar, simplesmente devem deixar de existir. Se essas ideias atuais prevalecerem, logo mais isso se estenderá para muito além das fronteiras de um estado, significando assim a destruição de toda a educação verdadeira. Quando se considera a maioria das escolas públicas dos Estados Unidos com seu materialismo, desencorajamento de qualquer esforço intelectual, e encorajamento de perigosas novidades pseudocientíficas de psicologia experimental, só é possível ficar horrorizado com a ideia de uma comunidade na qual não se pode escapar de um sistema aniquilador de almas." (páginas 17,18).


Concluindo esta análise dos efeitos do modernismo materialista sobre o sistema educacional, Machen diz que "Um sistema público de educação, que garanta educação gratuita para aqueles que o querem, é um benefício notável alcançado pelos tempos modernos; no entanto, ao se tornar monopolístico, transforma-se em instrumento perfeito para a tirania que já está sendo legada. A liberdade de pensamento foi combatida pela Inquisição na Idade Média, mas o método moderno é muito mais efetivo. Coloque a vida de seus filhos, em seus anos de formação, apesar das convicções de seus pais, nas mãos de profissionais designados pelo Estado; force-os então a frequentar escolas cujas aspirações mais elevadas da Humanidade são esmagadas, e onde as mentes são infectadas com o materialismo atual, e você verá quão difícil será que mesmo resquícios de liberdade sobrevivam." (página 19); devemos lembrar que o autor escreveu isto pouco antes da ascensão do nazismo na Alemanha, e foi esta a opção que o regime de Adolf Hitler fez.


Trazendo esta situação ao campo da espiritualidade e da religião, nosso autor defende que "uma religião não deveria ser aceita simplesmente por ser moderna, e nem condenada simplesmente por ser antiga." (página 19); e assim, demonstrando as falhas do LT e os verdadeiros princípios e valores do cristianismo, e no que eles se fundamentam, o autor nutre a esperança que "as pessoas possam ser levadas a deixar os elementos fracos e empobrecidos, e caminhar novamente para a Graça de Deus." (página 20); são estes princípios e valores cristãos, juntamente com seu fundamento, que continuaremos desenvolvendo no próximo texto.



(*) MACHEN, John Greshan "Cristianismo e Liberalismo" - Shedd Publicações - tradução Caio Cesar Dias Peres - 1ª edição - 2012

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