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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Cristianismo Verdadeiro - 4ª parte


por:
José Augusto de Oliveira Maia
25.08.2016



SÉRIE DE ESTUDOS SOBRE O LIVRO "CRISTIANISMO VERDADEIRO", DE WILLIAM WILBERFORCE (*)

CAPÍTULO IV - conceitos inadequados acerca da natureza e da disciplina do cristianismo prático

Neste quarto capítulo, nosso autor demonstra que a vida dos cristãos nominais pouco difere daquela dos que professam outros credos ou adotam filosofias distintas do cristianismo, como o islamismo ou o ateísmo.

Se (como é o entender de muitos) basta a moralidade social para ser um cristão, então os princípios e doutrinas do cristianismo são dispensáveis à sua prática; isto é, se a pessoa tem uma vida moralmente recomendável, sua fé nas doutrinas cristãs e seu conhecimento sobre elas não seriam uma exigência.

No entanto, Wilberforce questiona: "É para isto então que o Filho de Deus tonou-se a Si mesmo sem reputação quando aceitou ser nosso instrutor e modelo? É este o exemplo que Ele nos deixou a fim de que pudéssemos seguir pisando em suas pegadas? Foi para isto que os apóstolos de Cristo voluntariamente se submeteram à fome e à nudez, à dor e à desgraça, sim, e até mesmo à morte quando advertidos de antemão por seu Mestre que este seria o seu tratamento?" (pág. 66).

Assim, ele trata neste quarto capítulo dos seguintes temas:

A) A disciplina do cristianismo conforme apresentada nas Escrituras

B) As noções de cristianismo prático comuns entre as pessoas

C) O desejo pela admiração e aplauso humanos

D) A falsa substituição da fé cristã por gestos simpáticos e negócios

E) Outros defeitos na prática dos cristãos nominais

A) A DISCIPLINA DO CRISTIANISMO CONFORME APRESENTADA NAS ESCRITURAS

As admoestações bíblicas não são superficiais, e os cristãos que têm na Bíblia sua regra de fé não se satisfazem com pequenas realizações do ponto de vista moral; "Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro." (I João 3:3); fomos chamados para uma herança divina (I Pedro 1:4), para sermos santuário de Deus (I Coríntios 3:16).

Tendo confiado em Cristo como seu Redentor, os cristãos renunciam a quaisquer outros mestres, e portanto, só os critérios de Jesus Cristo quanto à vida são aceitos como parâmetro, e não menos; "Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são mais de si mesmos?" (I Coríntios 6:19).

Portanto, podemos dizer que a fé cristã consiste em:

i) levar todo pensamento cativo à obediência a Cristo (II Coríntios 10:5)

ii) fazer tudo para a glória de Deus (I Coríntios 10:31)

iii) não nos apoiarmos em nós mesmos, mas na força real que vem de Deus (Isaías 40:31)

iv) não vivermos mais para nós mesmos, mas para aquele que por nós morreu e ressuscitou (II Coríntios 5:15)

Considerando a passagem de Deuteronômio 6:5, "Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, e de todas as suas forças", concluímos que "trata-se de um engano imaginar que Deus só condena uma rejeição total a Ele. Deus também não aceitará uma afeição dividida." (pág. 72). Assim, Deus exige nosso amor exclusivo. "As Escrituras veem a idolatria, então, como um crime contra o qual Deus expressa Seu mais alto ressentimento e anuncia Sua mais severa punição. Mas não nos enganemos. A idolatria não consiste tanto em se curvar a ídolos quanto em prestar homenagem de coração a eles. Ela consiste de sentir-se para com o ídolo qualquer supremo amor, reverência, ou gratidão, os quais Deus reservou para si como privilégio exclusivo. Partindo-se do mesmo princípio, qualquer coisa que afaste o nosso coração dele, monopolize nossa atenção primeira e ocupe o lugar principal de nosso respeito e nossas afeições - este é tanto um ídolo para nós quanto uma imagem de madeira e pedra diante da qual nos prostramos e adoramos. A Bíblia ordena ao servo de Deus que não estabeleça seu ídolo em seu coração. Ela, portanto, repetidamente denomina a sensualidade e a cobiça de idolatria." (pág. 72).

B) AS NOÇÕES DE CRISTIANISMO PRÁTICO COMUNS ENTRE AS PESSOAS

Ao contrário da prática cristã bíblica, que subordina todos os aspectos da vida humana a Cristo, o cristianismo nominal é restrito a uma parte apenas da vida da pessoa, ficando os demais aspectos livres da obediência à Palavra de Deus; assim, o falso cristianismo dos dias de Wilberforce e dos nossos dias ensina:

i) satisfeita a obrigação de pagar meu dízimo a Igreja, posso fazer do restante de minha vida o que eu bem entender

ii) não ultrapassando certos limites do pecado, o falso cristão contenta-se em viver na fronteira entre a vida de santidade e a vida pecaminosa

iii) em lugar de viver para a glória de Deus em tudo o que faz, o cristão nominal dedica-se com ardor ao provimento material da vida muito além do necessário, além da busca pelo seu prazer

Sejam quais forem os dominadores de nossa vida, nenhum deles pode tomar o lugar de Deus; se assim for, "devemos nos preparar para receber nossa punição como rebeldes naquele dia tremendo, quando as falsas cores desaparecerão. E então, 'aquilo que tem muito valor entre os Homens será detestável aos olhos de Deus.' " (Lucas 16:15) (pág. 80).

"Considerem as nossas crianças. Devemos pensar com mais profundidade acerca de sua felicidade e cuidar para que sigam caminhos corretos. Mas neste caso, onde podemos discernir com toda a clareza nossos verdadeiros padrões, como refletimos pouco sobre o fato de que nossas crianças são seres imortais! Saúde, aprendizado, crédito, as qualidades cordiais e agradáveis, acima de tudo dinheiro e sucesso na vida - levamos bastante a sério. Mas que preocupação mínima verdadeiramente demonstramos por seus interesses eternos!" (págs. 80, 81).  Mas, "faz parte da realidade do caráter de um verdadeiro cristão que 'vivemos por fé e não pelo que vemos' (II Coríntios 5:7) (...) Isto também significa que as grandes verdades reveladas nas Escrituras acerca do mundo invisível têm lugar de destaque constante em suas mentes e em seus corações." (I Coríntios 7:29 - 31; II Coríntios 4:18) (págs. 82, 83).

Além disso, "o cristão verdadeiro anda nos caminhos da religião não por constrangimento, mas com disposição. Eles são para ele não somente seguros, mas 'agradáveis' (Provérbios 3:17). Não que ele desconheça a necessidade de apoio constante em vigilância contínua. Pois sem estes, sua velha visão das coisas retornará, e os antigos objetos de suas paixões exercerão sua influência." (pág. 84).

C) O DESEJO PELA ADMIRAÇÃO E APLAUSO HUMANOS

Em consequência disso:

i) qualquer coisa que o Homem coloque acima de Deus em sua vida é idolatria, e será condenado e destruído por Deus

ii) aquele que busca sua própria glória sacrificará qualquer coisa para obtê-la, ainda os princípios mais caros ao Evangelho

iii) os padrões e valores mundanos são opostos a Deus, por causa do pecado; portanto, aquilo que o mundo aplaude é abominação aos olhos de Deus

"Poder-se-ia dizer que o grande alvo e propósito de toda a revelação, e especialmente o objetivo do Evangelho, é o de nos resgatar de nosso orgulho e egoísmo naturais com suas consequências fatais. Seu propósito, portanto, é o de nos dar uma ideia justa e equilibrada de nossa fraqueza e depravação. Isto resulta em nossa humildade não fingida, com a qual deixamos a nós mesmos de lado e damos glória a Deus, 'para que ninguém se vanglorie diante dele. Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor." (I Coríntios 1:29, 31) (pág. 87). 

"As Escrituras nos ensinam que a Humanidade está sujeita ao erro, e, portanto, o mundo comete erros em suas recomendações. Isso não é tudo. Elas também nos lembram que seu julgamento é obscurecido e seu coração depravado: daí seus aplausos e seu desprezo, na maioria das vezes, serem sistematicamente mal direcionados." (II Coríntios 4:4) (pág. 88). Pessoas que não nasceram de novo em Cristo "estão muito pouco cientes do quanto o louvor mundano mantém a paixão presa às coisas terrenas e afasta o coração de Deus." (pág. 91).

"O santo chamado do cristão o leva a ser vitorioso sobre o mundo. Esta vitória requer uma indiferença essencial e indispensável ao seu desprezo e desonra. Ele reflete sobre aqueles homens que 'enfrentaram zombaria e açoites'."(Hebreus 11:36) (pág. 94).

D) A FALSA SUBSTITUIÇÃO DA FÉ CRISTÃ POR GESTOS SIMPÁTICOS E NEGÓCIOS

No tocante a essa substituição, quero me referir àqueles que pensam poder substituir o supremo amor e o temor a Deus por qualidades úteis e amáveis da vida, como a compaixão, a bondade e o perdão; na verdade, por mais populares e aceitáveis que sejam, tais qualidades não tem poder para restringir comportamentos privados que afrontam a santidade de Deus; muitos de nós, despidos do disfarce da gentileza e da doçura, seríamos expostos em nosso orgulho e malevolência.

"Essa fraca benevolência, que não está enraizada na verdadeira religião, é de uma natureza efêmera e débil. Ela carece daquele temperamento resistente e vigoroso que é necessário para suportar a injúria, ou sobreviver aos choques violentos, aos quais este mundo sempre nos expõe. Somente o amor cristão possui o caráter para ser 'paciente e bondoso', que 'não maltrata, não procura seus interesses', e que 'tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.' (I Coríntios 13:4, 5, 7) (págs. 100, 101). 

"As Escrituras, em toda a parte, ordenam a você que seja terno e compassivo, diligente e útil. É característica desta 'sabedoria do alto' - na qual você deve ser hábil - ser 'pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos.' (Tiago 3:17) (pág. 103); (...) Se, no entanto, você está consciente de que é naturalmente rude e austero; de que as decepções o deixaram amargurado, e de que a prosperidade o encheu de soberba; seja qual for o motivo pelo qual você tem um temperamento ruim, rispidez nos modos ou aspereza na linguagem - não se desespere. Lembre-se, as Escrituras prometem a ação divina de 'retirar o coração de pedra e dar um coração de carne' (Ezequiel 11:19). Ore, então, zelosa e perseverantemente, para que a bendita ajuda da graça divina possa operar eficazmente em seu favor." (pág. 104).

E) OUTROS DEFEITOS NA PRÁTICA DOS CRISTÃOS NOMINAIS

Cristãos nominais também incorrem no erro de condenar a maldade e o pecado nas classes economicamente menos favorecidas, enquanto são condescendentes com os mesmos pecados entre a elite social; "Mas a Palavra de Deus avalia as ações por meio de um padrão muito menos condescendente. Nela, não lemos de pequenos pecados. No Sermão do Monte, não há distinção entre os pecados dos ricos e os pecados dos pobres. Não há referências a uma escala de moral para as classes mais altas e outra para as mais baixas da sociedade. A idolatria, a fornicação, a lascívia, a bebedeira, orgias, paixões desenfreadas - o apóstolo as classifica todas ao lado do roubo e do assassinato. Ele declara de igual modo para todos estes pecados que 'os que praticam essas coisas não herdarão o reino de Deus.'." (Gálatas 5:19 - 21) (pág. 107).

"A verdade é que não nos lembramos o bastante do tom exaltado da moralidade bíblica. Assim, provavelmente, nos valorizamos, tendo como referência nossos próprios parâmetros. Um melhor conhecimento do padrão das Escrituras nos mostraria quão distantes estamos dele. Assim, ao especificar a mais difícil das tarefas - o perdão e o amor aos inimigos - nosso Salvador aponta para a imitação do exemplo de nosso Supremo Benfeitor. Em contraste com os nossos padrões de benevolência, Ele acrescenta, 'sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês.'." (Mateus 5:48) (pág. 111).

Os cristãos nominais negligenciam as principais doutrinas da fé cristã: a corrupção da natureza humana, a expiação do Salvador e a influência santificadora do Espírito Santo; mesmo conscientes do pecado e da necessidade de reforma espiritual, eles desconhecem a gravidade da corrupção humana e o remédio para este mal; anseiam por uma reforma em suas vidas, mas desprezam o Caminho apontado pelas Escrituras; diante do fracasso, entram em desespero.

"Mas as Santas Escrituras os conclamam a começar de novo e estabelecer um novo fundamento para sua fé religiosa. Eles devem se prostrar diante da cruz de Cristo, com humilde penitência e profundo senso de arrependimento. Solenemente, devem decidir abandonar seus pecados e confiar somente na graça de Deus para receber o poder de manter sua decisão. (...) O verdadeiro cristão sabe, portanto, que sua santidade não precede sua reconciliação com Deus, sendo então sua causa. Mas ela tem de a seguir, e ser o seu efeito. Em resumo, ela ocorre somente pela fé em Cristo, fé marcada pelo arrependimento do pecado (pág. 113). (...) Desse modo, não devemos esquecer que a principal distinção entre o verdadeiro cristianismo e o sistema do grupo dos cristãos nominais consiste no lugar diferenciado que é dado ao Evangelho. Para os últimos, as verdades do Evangelho são como estrelas distantes que piscam com um brilho vão e despretensioso. Mas para o verdadeiro cristão, essas doutrinas principais constituem o centro no qual ele gravita, como o sol de seu sistema, e a fonte de sua luz, calor e vida." (pág. 115)




click no link abaixo (ou copie e cole no seu browser), e leia um trecho do livro "A Fé Cristã - sua história e seus ensinos"

https://www.clubedeautores.com.br/book/181552--A_FE_CRISTA?topic=teologia#.V9g4Yh4rLIU

(*) - WILBERFORCE, William "Cristianismo Verdadeiro"; Editora Palavra, 2006; tradução de Jorge Camargo