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domingo, 29 de maio de 2016

Cristianismo Verdadeiro - 3ª parte


por:
José Augusto de Oliveira Maia
29.05.2016




SÉRIE DE ESTUDOS SOBRE O LIVRO "CRISTIANISMO VERDADEIRO", DE WILLIAM WILBERFORCE

CAPÍTULO III - conceitos inadequados de Deus e do comportamento cristão

Outro problema identificado por Wilberforce nos cristãos nominais é o menosprezo pelas principais doutrinas da fé cristã, especialmente aquelas ligadas à mensagem da salvação.

Sobre a pessoa de Cristo

As características e os fatos atribuídos a Cristo, tais como Seu amor e Sua morte sacrificial por nós, muitas vezes ocupam o terreno intelectual do entendimento dos cristãos nominais, porém, dificilmente os atingem em um nível puramente pessoal; a absorção pessoal do amor de Deus, manifesto em Cristo, passa longe da vida dos cristãos que meramente frequentam os cultos na igreja local por tradição.

"Embora mantidas com o decoro que condiz com o dia, o lugar e a atividade religiosa, essas verdades são, na maioria das vezes, ouvidas com pouco interesse. (...) Quando o culto termina, nós as apagamos completamente de nossas mentes, até o próximo domingo, quando mais uma vez renovamos nossa humildade e gratidão periódicas. (...) Se o amor de Cristo é tão débil entre os cristãos nominais, não é de se esperar que sua alegria e confiança Nele sejam fortes." (pág. 45)

A obra do Espírito Santo

Mais um ponto fundamental da doutrina cristã menosprezada pelos cristãos nominais é a obra santificadora do Espírito Santo; crendo em uma suposta capacidade própria de desenvolver sabedoria e santidade de vida, os cristãos nominais relegam ao esquecimento "os meios providos por Deus para o recebimento e o cultivo de Sua ajuda todos os dias." (pág. 45), como a oração e o estudo da Palavra de Deus, a Bíblia.

Conceitos inadequados acerca da obra do Espírito Santo também faziam parte das questões que envolviam a religiosidade à época de nosso autor; desleixando a doutrina da influência do Espírito Santo, os cristãos nominais forjam uma religião conforme suas conveniências, em lugar de construí-la sobre os ensinamentos da Bíblia, a Palavra de Deus.

Ela declara abertamente a corrupção da natureza humana; "como os outros, éramos por natureza merecedores da ira." (Efésios 2:3); "Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores." (Romanos 5:8); mas também nos ensina "a orarmos pela influência do Espírito Santo a fim de iluminar nosso entendimento, desfazer todos os preconceitos, purificar nossas mentes corrompidas e nos renovar segundo a imagem do nosso Pai celestial." (pág. 56).

A influência do Espírito Santo é ilustrada na Bíblia como dar vida aos mortos (Romanos 4:17); resgatar do domínio das trevas (Colossenses 1:13); renovar o conhecimento (Colossenses 3:9, 10); ao mesmo tempo, somos exortados a não entristecer o Espírito Santo, com o qual estamos selados para o dia da redenção (Efésios 4:30).

Sobre o comportamento cristão

Um terceiro ponto importante a destacar é o cuidado com aqueles que, falsamente intitulando-se de cristãos, tem manchado a fé cristã com um fanatismo ignorante e hipócrita. Wilberforce, porém, relembra que, da mesma maneira como não desprezamos a liberdade porque alguém abusa dela, também não devemos desprezar a verdadeira vida espiritual por causa do fanatismo hipócrita dos que a tem deturpado.

Fazendo uso das palavras de Cristo, o autor nos mostra que já fomos anteriormente prevenidos contra estes falsos cristãos. "O próprio Cristo nos ensinou a esperar por isso quando disse: 'O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio?' Sua própria resposta apresenta a melhor solução: 'Um inimigo fez isto.' (Mateus 13:27, 28)". (pág. 47).

Como prevenção contra a hipocrisia e o fanatismo ignorante, o autor dá uma sugestão muito preciosa até os nossos dias: "Mesmo em nossa própria época (...) é necessário aos homens (e às mulheres, grifo meu) que estudem, se preparem e deem atenção à forma, tanto quanto ao conteúdo. Essas preparações que qualificam os homens a se tornarem professores da religião não foram suplantadas." (pág. 48).

A validade das emoções

Outro tema que ocorria entre os cristãos na Inglaterra ao tempo de Wilberforce também alcança nossos dias: o papel das emoções na adoração. Aqueles que defendiam um culto puramente racional, afirmavam que as emoções são mal empregadas na religião, e estavam fora de lugar.

Contra-argumentando a estes, Wilberforce começa considerando que seria muito pretensioso de nossa parte querer excluir do cristianismo "parte tão significativa da composição do homem" (pág. 49); no entanto, o fato de nossas emoções se rebelarem contra nossa razão e nossa consciência é uma das evidências de nossa queda no pecado. Porém, um dos focos da fé cristã é "colocar todas as faculdades de nossa natureza em seu devido lugar de submissão e dependência. O cristianismo basicamente restaura o homem todo, completo, em todas as suas funções, até as entranhas de seu ser: ele é dedicado, inteira e harmoniosamente, ao serviço e à glória de Deus." (pág. 50).

Nossa adoração aceitável a Deus também alcança nossas emoções: amor, zelo, gratidão, alegria, esperança, confiança, todas elas estão contempladas na Bíblia; ao mesmo tempo, as Escrituras condenam os corações frios, duros e insensíveis. Deus promete, em Sua Palavra, "desfazer um coração de pedra e implantar uma natureza mais calorosa e terna em seu lugar, como resultado de Seu favor restituído." (pág. 51).

Logicamente, apenas as reações emocionais não são um parâmetro de espiritualidade amadurecida; "Mas a paixão que as Escrituras dignificam definindo-a como sendo Amor é um sentimento profundo e não superficial. É fixa e permanente, e não uma emoção ocasional. Prova a validade de seu título por meio de ações correspondentes à sua natureza. 'Se alguém me ama, guardará a minha palavra.' (João 14:23). 'Porque nisto consiste o amor a Deus: em obedecer aos seus mandamentos.' (I João 5:3). Este é, portanto, o melhor padrão para se provar a qualidade das emoções religiosas: elas estimulam o amor que guarda Seus mandamentos?" (págs. 52, 53).

Nosso Senhor Jesus Cristo é o alvo certo de nossas emoções; como não amar alguém que, por nossa causa, "suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus."?

A salvação dos pecadores

Por fim, a polêmica sobre a aceitação dos pecadores por Deus, no tempo de Wilberforce, não era diferente do que encontramos hoje; se perguntarmos aos cristãos nominais de nossa época sobre a maneira pela qual um pecador é aceito por Deus, as noções apresentadas sobre este assunto são perigosas, desprovidas de solidez e incertas.

Via de regra, as pessoas confiam em sua própria meritocracia, seja julgando-se muito melhores do que os demais pecadores, ou, ainda que atraídos a praticar os piores pecados, contam com uma suposta compensação destes por uma série de boas obras praticadas; tais pessoas apoiam-se "não nos méritos de Cristo e na intervenção da graça divina, mas no seu próprio poder de cumprir as exigências moderadas da justiça divina." (pág. 59); pessoas que agem assim, "fracassam em enxergar o orgulho natural do coração humano", e "não consideram o cristianismo um plano para justificação dos pagãos por meio da morte de Cristo por eles, quando ainda eram pecadores" (pág. 60).

Como consequência, tendem a perder a devida sensibilidade diante de nossa condição de pecadores e de nossa natureza pervertida pelo pecado; tais erros "anulam o sentimento profundo de gratidão pelos méritos e pela intercessão de Cristo, a quem devemos totalmente nossa reconciliação com Deus" (pág. 60). Isto explica a falta de amor para com Jesus Cristo, e a falta de compreensão da necessidade da ação do Espírito Santo, tão comuns em nossos dias.

Não é em vão que Paulo advertiu aos coríntios: "Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo." (I Coríntios 3:11); nossa dependência e nosso apelo por perdão têm este fundamento, que concede esperança a todos, indistintamente.

"O nome de Jesus não deve ser para nós (...) como um talismã ou um amuleto, usado no braço como um distintivo exterior e um símbolo de uma profissão, com o objetivo de se preservar do mal através de uma potestade misteriosa e incompreensível. Ao contrário, devemos permitir que o nome de Jesus esteja gravado profundamente em nossos corações, escrito neles com o próprio dedo de Deus, com letras eternas.".

click no link abaixo, e leia um trecho do livro "A Fé Cristã - sua história e seus ensinos"

https://www.clubedeautores.com.br/book/181552--A_FE_CRISTA?topic=teologia#.V9g4Yh4rLIU


(*) - WILBERFORCE, William "Cristianismo Verdadeiro"; Editora Palavra, 2006; tradução de Jorge Camargo