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terça-feira, 9 de abril de 2013

Por uma nova organização eclesiástica



por: José Augusto de Oliveira Maia
11.03.2013



Introdução

O motivo de dedicar-me a produzir este trabalho é a percepção, possivelmente bastante realista, de que o modelo organizacional das Igrejas em geral (aqui me refiro mais especificamente à Igreja local, mas esta percepção também pode ser aplicada à estrutura denominacional), tornou-se hoje algo tão complexo, que fica difícil vê-lo alcançando os objetivos de Deus para a presença física do Corpo de Cristo na Terra.

Portanto, pretendo aqui dar uma modesta contribuição para o que possa ser um processo de repensarmos e reorganizarmos nossas estruturas eclesiásticas, buscando tornar o ambiente das Igrejas locais e seus processos internos menos tensos, e quem sabe assim, trazer mais e melhores resultados para sua atuação.

Minha experiência na Igreja local

Nasci em um lar católico em 1.969, e a partir dos 10 anos, comecei a frequentar uma igreja evangélica pentecostal independente, do que se convencionou chamar de pentecostalismo de segunda onda; costumo situar a minha conversão ao Evangelho em algum momento do ano de 1.980.

Em cerca de 33 anos de conversão, pude verificar pelo menos 4 modelos diferentes de organização eclesiástica nas Igrejas pelas quais passei (apresentados aqui de maneira objetiva):

a.) A Igreja local grande, com o número de membros girando em torno de 1.000 pessoas, e com o comando da Igreja centralizado na figura do pastor principal, que diz o quê, quando e como algo será feito, e quem o fará; ao mesmo tempo, a mesma figura pastoral diz o quê, quando e como algo não será feito; é muito difícil vermos neste modelo alguém questionar alguma coisa sem ser acusado de se levantar contra o “ungido do Senhor”; com o tempo, a vulnerabilidade deste sistema torna-se evidente, e se não for corrigido a tempo, as consequências ruins surgirão inevitavelmente.

b.) A Igreja local pequena, com o número de membros de até 200 pessoas e uma estrutura organizacional simples, cujas decisões são tomadas por uma assembléia composta de todos os membros, e convocada regularmente; este modelo tende a dar certo, desde que todos os membros tenham clareza sobre os objetivos que se deseja alcançar.

c.) A Igreja local média, acima dos 200 membros, com uma estrutura organizacional complexa, e dirigida por um conselho eleito pela assembleia dos membros da Igreja; dependendo do grau de complexidade da organização, podem ocorrer choques entre as organizações internas, falhas de comunicação, conflitos (e por conflitos refiro-me a brigas entre as pessoas na direção da Igreja), e o sucesso apenas parcial ou mesmo o fracasso no alcance de seus objetivos.

d.) A Igreja local pequena, limitada a 200 membros, uma estrutura organizacional mediana, e cujas decisões são tomadas, se não diretamente pelo pastor, sob sua forte influência; é um modelo que pode até funcionar bem, mas sua dependência da pessoa do pastor inibe o desenvolvimento de uma liderança amadurecida, capaz, e que faça a diferença.

Nas Igrejas que adotaram os modelos acima, tive a oportunidade de ver um pouco de tudo: membros que deixam a Igreja por discordarem da liderança do pastor; pastores que dizem quem pode o quê, de acordo com seus próprios critérios e interesses; membros que se articulam politicamente para depor o pastor do qual não gostam; pastores que articulam a exclusão de membros que não o agradam; membros que deixam a Igreja por rivalidade com outros membros; e assim segue a lista. Mais do que nunca, estas situações têm causado nos membros das Igrejas muitas frustrações, escândalos, enfraquecimento na fé, e o que poderíamos chamar aqui de stress pós-traumático, muitas vezes ocasionado por um excesso de ativismo religioso que promove mais desagregação do que testemunho do Evangelho e edificação espiritual.

Muito embora o objetivo aqui declarado seja contribuir para a construção de um novo modelo eclesiástico, não posso deixar de observar que, nos casos acima, o que falta muitas e muitas vezes é transformação de vida, humildade, e para ilustrar melhor, a real presença do fruto do Espírito na vida das pessoas, quer sejam os membros, sua liderança, ou mesmo o pastor; neste caso, tenho plena consciência, pela Palavra de Deus, a Bíblia, que só um processo de conversão genuína, ou arrependimento profundo e radical, podem resolver ou prevenir estas ocorrências; do contrário, qualquer movimentação será “como o metal que soa, ou como o sino que tine” (I Coríntios 13:1): acabando a vibração, acaba o efeito.

Propósitos de Deus para Sua Igreja que encontro na Bíblia

Embora o termo “Igreja” na Bíblia refira-se muitas vezes à Noiva de Cristo, ou ao Corpo de Cristo, o conjunto de pessoas que tiveram seus pecados lavados através da fé no sangue de Cristo (Efésios 1:20 – 23; Apocalipse 7:9 – 14; 19:7, 8), penso poder afirmar que, necessariamente, esta Igreja organiza-se em grupos, em sua maioria institucionais, e que estes grupos pretendem ser a expressão humana da Igreja de Cristo neste mundo. Sendo assim, parto do princípio de que os propósitos de Deus para Sua Igreja são os mesmos que devem ser observados pelas Igrejas locais.

Apresento aqui então três propósitos de Deus como podemos encontrar na Bíblia:

a.) A missão de levar o Evangelho, a mensagem de perdão dos pecados através da fé no sacrifício de Cristo, para todas as pessoas (Mateus 28:18 – 20; Lucas 24:46 – 48; Atos 1:8; Romanos 1:15, 16; II Timóteo 4:2).

b.) Socorro aos necessitados, dentro e fora da Igreja (Romanos 15:26; Gálatas 6:9, 10; Hebreus 13:16; Tiago 1:27).

c.) Edificação espiritual, através do ensino da Palavra de Deus e da comunhão mútua (Efésios 4:11 – 16; I Tessalonicenses 5:14; Hebreus 10:23 – 25; II Pedro 1:5 – 9).

Acredito sinceramente que se nossas Igrejas concentrarem-se nestes objetivos, estaremos seguindo com segurança aquilo que Deus deseja para Sua Igreja.

A pergunta é:

“E como exatamente devemos proceder para executarmos na prática estas ações, realizando estes propósitos de Deus?” Tenho certeza que cada Igreja local encontrará a forma específica de realizar estas coisas, de acordo com a realidade de cada uma.

Em termos de evangelização, a Igreja local pode optar pela região ao seu redor; pode (e deve!) estimular seus membros ao testemunho pessoal, apoiando-os, por exemplo, com material evangelístico; enviar e/ou apoiar missionários em campos mais distantes; as ideias seguem.

No tocante ao socorro aos necessitados, podemos observar internamente os membros, ou famílias que tenham necessidades materiais, e procurar supri-las através da própria comunidade; cestas básicas, roupas, remédios (com os devidos cuidados), uma carona para o idoso ao hospital para tratamento... enfim, exemplos não faltam; e externamente, campanhas do agasalho, distribuição de alimentos em favelas, campanhas de doações para asilos e orfanatos...

E sobre a edificação espiritual, nada como o cuidado na ministração sadia de estudos bíblicos (nos lares, na própria Igreja, sobre assuntos específicos e atuais), e a exortação ao apoio mútuo e fraterno entre os irmãos.

Como disse de início, cada Igreja poderá encontrar seus próprios caminhos para esta jornada; o importante é trabalhar de forma amorosa e contínua, com organização simples e eficaz, tendo por objetivo o Reino de Deus e as almas a serem ganhas para Cristo.

E quanto à hierarquia...

Lógico, nada se faz sem uma direção reconhecida e aceita por todos; mas uma das ideias que quero defender aqui é que, quanto mais simplicidade imprimirmos às nossas ações, e mais objetividade aos nossos procedimentos, mais consistentemente poderemos avançar.

Portanto, gostaria de sugerir aqui as duas esferas de hierarquia que devem funcionar na Igreja: a administrativa e a eclesiástica.

Quando me refiro à hierarquia administrativa, quero dizer o conjunto de pessoas que realizarão tarefas quanto à representação da Igreja (presidência), à administração de seus recursos financeiros (tesouraria e conselho fiscal: controlar, pagar, receber, investir, conferir, etc.) e ao registro do histórico da Igreja e do controle das informações sobre sua membresia (secretaria: atas de reunião e de assembleias, controle de documentações, cadastro de membros).

Assim, proponho uma estrutura bem simples no organograma a seguir:






No tocante à hierarquia eclesiástica, como minha convivência maior é no meio batista, apresento aqui uma estrutura baseada nas figuras do pastor e do diácono; sei que outras Igrejas adotam outros cargos eclesiásticos, e tenho certeza que as devidas adaptações poderão ser feitas.

No modelo que proponho aqui, a questão dos propósitos de Deus para a Igreja local é fundamental, pois o trabalho dos diáconos girará em torno destes propósitos; dentro de cada um destes propósitos, sugiro o número de três diáconos; e por quê especificamente três? Porque isto pode evitar a excessiva dependência de uma única pessoa, a sobrecarga de trabalho, o risco de uma vacância inesperada e paralisação do trabalho; e não é um número par (dois, por exemplo), para reduzir o risco de um empate na tomada de decisões internas.

Assim, a Igreja terá um pastor auxiliado por nove diáconos, conforme o esquema abaixo:















Dentro de cada propósito destes, os diáconos deverão articular junto com o pastor a forma de trabalhar; mas como já dito anteriormente, sempre tendo em vista a simplicidade e a objetividade.

É claro que enxergo para o diaconato da igreja outras atividades além destas, conforme apresento abaixo:

a.) Os diáconos deverão participar ativamente na direção dos cultos, deixando para o pastor a responsabilidade da pregação; é interessante que os diáconos sejam estimulados a pregar nos cultos também, e dar a eles o devido apoio, através de cursos de exegese, e até quem sabe, de homilética.

b.) O serviço de abertura e fechamento da Igreja, bem como a recepção durante os cultos na porta da Igreja, também deverá ser reservado aos diáconos; o atendimento aos membros da Igreja e visitantes, no tocante à circulação e uso das dependências (banheiro, cantina, berçário, estacionamento, etc), também fica a cargo do diaconato.

c.) Durante a celebração da ceia, os diáconos auxiliarão o pastor, servindo à Igreja.

d.) O pastoreio da Igreja, embora seja atribuição pastoral, deve ser dividido com os diáconos; sugiro que se faça um mapeamento geográfico da membresia da Igreja, deixando para cada diácono uma certa quantidade de núcleos familiares (defino isto como conjunto de pessoas que moram no mesmo endereço), que morem próximo deste mesmo diácono, facilitando o atendimento; logicamente, os casos mais complexos deverão ser encaminhados ao pastor.

e.) A realização de batismos pelo pastor também deverá ser auxiliada pelos diáconos.

Em ocasiões de cultos com um procedimento litúrgico mais complexo (ex.: dia de celebração da ceia, batismo), é bem-vinda a elaboração de uma escala de trabalho; para isso, é interessante que os diáconos elejam entre si um coordenador, que além de administrar o serviço diaconal no espaço e horário dos cultos, poderá ocasionalmente representar o corpo diaconal perante a Igreja e o pastor.

Tratando ainda de ambas as hierarquias, entendo ser recomendável que nenhum dos cargos da hierarquia administrativa da Igreja seja exercido pelo pastor ou pelos diáconos, para evitar o acúmulo de funções; mas que a Igreja tenha oportunidade de escolher entre seus membros pessoas para exercer separadamente as funções administrativas e eclesiásticas, com a possível exceção do pastor, que deverá ser escolhido de acordo com as diretrizes da denominação de cada Igreja.

Para o caso dos cargos a serem preenchidos, entendo que nenhum trabalho pode ser realizado de forma consistente num período relativamente curto, de um ano; acho interessante que as pessoas que componham a hierarquia administrativa sejam eleitas para períodos de dois anos, sendo reeleitas, quando for o caso.

Para a hierarquia eclesiástica, é claro que normalmente o pastor seja escolhido para exercer seu pastorado por tempo indeterminado; no caso dos diáconos, entendo que o ideal seja um cargo vitalício, sujeito aos casos de disciplina e perda do cargo, se for necessário; mas seria interessante que o coordenador dos diáconos também tivesse um mandado de dois anos, e que a cada dois anos, se fizesse o rodízio dos diáconos entre as três áreas de atuação, para que todos eles pudessem ser exercitados em todo o trabalho da Igreja; e nos casos de saída de algum dos diáconos, que a Igreja possa escolher outro para preencher sua vaga.

Considerações finais

Bem, como disse a princípio, este texto tem a intenção de ser apenas uma contribuição; não escrevi aqui uma receita de bolo, nem algo como “três passos fáceis para o sucesso da Igreja”; mas creio que dois pontos fundamentais devem ser ressaltados:

* Concentração nos objetivos bíblicos: evangelismo, socorro aos necessitados e edificação espiritual.

* Ter os objetivos bem claros, para que ao montarmos nossas ações, não percamos a objetividade; e criar estruturas simples, para que amanhã os meios não se tornem maiores do que os objetivos, e não venham a tornar-se um fim em si mesmos.

Desejo, de coração, que todos os que lerem este texto possam ser inspirados a refletir como tem sido nossa vida como Igreja, e quem sabe, possamos encontrar formas de aperfeiçoar nossos caminhos.

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